Bellorio, que é católico, afirmou à Justiça que a obrigatoriedade fere a sua liberdade de crença e que a medida configura abuso de poder. Disse que, pelo fato de não ter comparecido a uma das reuniões, passou a ser alvo de um procedimento administrativo.
Ele pediu que o Estado seja condenado a lhe pagar uma indenização por danos morais.
O governo paulista respondeu no processo que as reuniões na Igreja Universal não são de caráter religioso, mas relativas a assuntos militares.
Afirmou que o templo é utilizado em razão da necessidade de um espaço que comporte reuniões com grande número de pessoas.
Declarou ainda que o Estado é laico e que respeita a religiosidade e a crença de cada policial militar.
As reuniões ocorreram, segundo o processo, na gestão João Doria. Mas, em 23 de junho do ano passado, o jornalista Chico Alves publicou uma reportagem no UOL segundo a qual o templo da Universal na rua Brigadeiro Luís Antonio, na zona oeste de São Paulo, havia recebido no dia anterior cerca 700 integrantes do 11º Batalhão da Polícia Militar.
Na ocasião, após uma solenidade de entrega de medalhas a policiais que se destacaram em suas funções, foi oferecida "assistência espiritual e valorativa aos policiais", informou a reportagem, citando uma publicação da igreja no Instagram. Ou seja, as reuniões da PM na Universal continuaram a ocorrer no governo Tarcísio de Freitas.
A Justiça paulista rejeitou o processo aberto pelo policial Bellorio em primeira instância por considerar não haver provas de que a administração lhe impôs a participação em cultos religiosos.
A sentença, publicada em 7 de junho, afirma que testemunhas apontaram que, embora ao final das reuniões de trabalho ocorra uma "rápida oração e disponibilização de pastores para auxílio espiritual", a presença dos policiais nesse momento é facultativa.
Bellorio recorreu da decisão, mas ainda não houve novo julgamento.
O processo, aberto em 2020 durante o governo João Doria, tramita sob segredo de Justiça.
Desde 2023, São Paulo é administrado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Jair Bolsonaro. No final de maio, na Marcha para Jesus, Tarcísio, que é católico, fez um discurso citando personagens bíblicos. "Quem são vocês, quem somos nós? Somos os escolhidos", afirmou o governador.
Estevam Hernandes, organizador da marcha, brincou: "Ele já está pregando melhor que muito pastor."
Por Rogério Gentile
Fonte: UOL