Márcia Lanzane foi morta em 21 de dezembro de 2020. Imagens do circuito interno de segurança do imóvel mostraram a luta corporal entre ela e o filho na data do crime. Na manhã seguinte, Bruno saiu de casa e retornou, momento em que acionou a polícia dizendo ter encontrado a mãe morta. Desde então, ele estava foragido, mas foi preso na última segunda-feira (8).
Ao g1, as irmãs da vítima, Minervina Lanzane de Quadra e Mariusa de Quadra, disseram que sempre estiveram atrás de pistas sobre o sobrinho. Elas recebiam denúncias anônimas com diversas informações e uma delas foi essencial para a localização de Bruno.
“Tive informações de que a ex-namorada que ele arrumou em Curitiba [cidade para onde foi] após fugir de Guarujá tinha se mudado pra Belo Horizonte. E aí surgiu a dúvida se ela não poderia estar acobertando”, afirmou Mariusa, dizendo que passou a pesquisar pistas nas redes sociais dela.
Durante as buscas, a mulher se deparou com um perfil no TikTok de nove gatos e um cachorro. “Apareceu um vídeo desse perfil que havia uma mão fazendo carinho no gato e uma voz com efeito. Porém, o jeito de falar me chamou a atenção e comecei a assistir todos os vídeos”, relembrou Mariusa, que logo reconheceu Bruno nas imagens.
Minervina também confirmou a suspeita: “Sem dúvidas nenhuma, não tinha como não reconhecer que era a mão dele, que era a voz dele distorcida”. As irmãs não pensaram duas vezes e foram para Belo Horizonte atrás de Bruno.
Foto: Reprodução/Redes Sociais e Pixabay |
Minervina e Mariusa foram pessoalmente às lojas que seguiam o perfil dos gatos de Bruno no TikTok. A página, inclusive, foi desativado da plataforma.
“Ele vendia coisas para pets, então tinha vinculado [ao perfil] alguns petshops. Com isso, a gente sabia que, quando a gente leva os bichinhos para dar banho, tem que ter um cadastro”, disse Minervina.
Nos comércios locais, as irmãs apresentavam a foto de Bruno e perguntavam sobre ele, que era conhecido pelas pessoas como Felipe. Após muita pesquisa e conversa com comerciantes, descobriram o local em que o sobrinho estava morando com a namorada.
"Essa luta não foi só nossa, foi de todos que seguiram a página [de buscas por Bruno], que fizeram denúncias mesmo não sendo ele", disse Mariusa.
Prisão
Com uma cópia do mandado de prisão dele, Minervina e Mariusa acionaram a polícia para prendê-lo. De acordo com a Polícia Militar, Bruno resistiu à ordem de parada dos agentes e precisou ser imobilizado. Por causa disso, sofreu leves escoriações e foi levado ao Hospital Municipal Odilon Behrens.
Em nota, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) confirmou a prisão de Bruno por causa do mandado de prisão em aberto. Após o atendimento médico, ele foi conduzido à Delegacia de Plantão para o cumprimento da prisão e, após o procedimento de polícia judiciária, encaminhado à cadeia.
Processo
Foto: Reprodução |
O caso foi investigado pela Delegacia Sede de Guarujá. O inquérito policial foi concluído em 31 de maio de 2021 e encaminhado à Justiça. A prisão temporária de Bruno foi determinada pouco depois.
Após três anos foragido, Bruno foi preso por policiais militares, por volta das 13h40 de segunda-feira (8), na Rua Atalaia, no bairro Caiçara, em Belo Horizonte (BH).
Uma decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) diz que Bruno deve ser levado ao tribunal do júri e não poderá aguardar o julgamento em liberdade.
"Trata-se de crime extremamente grave e o réu não demonstra que pretende cooperar para a aplicação da lei penal. Logo, fica mantida a decisão que decretou a prisão preventiva do acusado", afirmou a juíza Denise Gomes Bezerra Mota, da 1ª Vara Criminal de Guarujá.
À época, em documento enviado ao TJ-SP e obtido pelo g1, o advogado Anderson Real Soares, responsável pela defesa de Bruno, alegou que o laudo necroscópico apresenta contradições e informações incompletas. Ele acrescentou que não há comprovação de que a motivação seria a herança.
Para o advogado, houve cerceamento de defesa, ou seja, quando as provas constatadas no processo não são suficientes para o julgamento.
"Provas produzidas unilateralmente pelos órgãos da acusação penal não servem para o processo penal e não podem basear condenações, muito menos suposições e teorias colocadas pela acusação", afirmou Anderson.
O TJ-SP, no entanto, discordou da alegação da defesa e manteve a decisão de primeiro grau de que Bruno deve ser levado ao júri.
A defesa ainda pediu que o acusado não seja julgado por feminicídio. De acordo com ele, não há elementos de que a motivação estava relacionada a vítima ser uma mulher ou provas de um histórico de violência doméstica.
Foto: Polícia Civil/Divulgação |
Fonte: g1