“Anic está morta”, declarou a advogada Flávia Fróes. “Ela foi morta desde o primeiro dia.”
Anic e Lourival — Foto: Reprodução |
Esse dia, segundo a defesa, foi o 29 de fevereiro, justamente quando Anic foi vista pela última vez em Petrópolis. Agora, os advogados prometem levar a polícia até o corpo, que estaria na Região Serrana do RJ, e informar o local do assassinato.
Lourival está preso desde maio e já é réu pelo desaparecimento e extorsão.
A advogada declarou ainda estar negociando uma delação premiada com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) para que Gordo aponte o suposto mandante de toda a trama. Segundo Flávia, o sequestro forjado e a extorsão contra a família de Anic, mesmo após o homicídio, faziam parte dos planos do autor intelectual do crime.
A defesa diz que Anic era de fato amante de Lourival e foi com ele no dia da morte por espontânea vontade, então não houve sequestro, apenas o homicídio, e pontuou que não pode revelar detalhes sobre o suposto mandante do crime.
Segundo o MPRJ, as tratativas sobre uma delação estavam sendo efetuadas, “mas o MPRJ e a parte não chegaram a um acordo sobre os benefícios que poderiam ser aplicados ao caso concreto”. “Caso novas provas sejam apresentadas de maneira espontânea, serão validadas e, se for o caso, consideradas, fora do âmbito de uma colaboração premiada”.
A ação penal segue em curso perante a 2ª Vara Criminal.
Novas provas
Mas novas provas obtidas pela 105ª DP (Petrópolis) fizeram com que o MPRJ pedisse que os quatro réus por extorsão mediante sequestro e desaparecimento de Anic Peixoto Herdy também respondam pela morte da vítima.
Mensagens trocadas entre Gordo e Rebecca Azevedo dos Santos, apontada como amante dele, já revelavam indícios do assassinato.
O g1 teve acesso ao aditamento à denúncia feito no dia 15 de agosto. Segundo o documento, Rebecca mandou uma mensagem para Lourival no dia 17 de março, 20 dias após o desaparecimento de Anic, no dia 29 de fevereiro. O caso foi revelado pelo Fantástico em maio.
Na mensagem, ela escreveu para o amante:
"Cinzas já estão passeando pelo rio".
Lourival responde em seguida: "Muito bom", acompanhado de uma figurinha de sorriso.
"A referida mensagem comprova a morte de Anic, sendo que seus restos mortais já estariam distantes da possibilidade de serem encontrados", diz um trecho do aditamento à denúncia feito pelo promotor Paulo Yutaka Matsutani. O corpo da vítima nunca foi encontrado.
Prejuízo de R$ 4,6 milhões
Segundo o Ministério Público, o sequestro forjado de Anic rendeu R$ 4,6 milhões para Lourival, Rebecca e os dois filhos de Lourival, Maria Luísa e Henrique.
O valor foi pago pelo então marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, que deu o dinheiro do resgate da vítima sem saber que estava sendo vítima de extorsão por Lourival e seus comparsas, de acordo com as investigações. Lourival trabalhava para Benjamin e era tratado como um funcionário de confiança.
"Assim, coube ao denunciado Lourival a função de arquitetar todo o plano criminoso, contando com os demais denunciados para sua execução", diz o promotor no documento.
O aditamento ainda cita a frequente comunicação entre os réus antes, durante e depois do sequestro e a exigência do pagamento de resgate, além da participação dos filhos de Lourival.
Henrique, filho de Lourival, recebeu U$ 175 mil, entregues através de um intermediário, em um dos momentos que Benjamin entregou dinheiro para pagar o suposto resgate da vítima. Foram pelo menos 40 depósitos, de acordo com as investigações.
O promotor lembrou também que as provas atestam que os réus compraram itens de luxo com o dinheiro do resgate, como um carro e uma moto, e que a filha de Lourival montou uma loja de celulares que teria sido criada especificamente para "lavar" o dinheiro obtido com o crime.
Investigações apontam que parte do dinheiro foi investida em criptomoedas. A quantia foi rastreada e devolvida à família de Benjamin Cordeiro Herdy. A lavagem de dinheiro será investigada pela Polícia Federal.
Por Henrique Coelho
Fonte: g1