O que é a ‘síndrome do bebê sacudido’, que levou pai ao corredor da m0rt3

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Via @portalg1 | Um homem deve ser executado com uma injeção letal no Texas nesta quinta-feira (17), no primeiro caso relacionado à "síndrome do bebê sacudido" nos EUA.

A execução ocorre em meio a apelos de diferentes atores por clemência, como ONGs contra a pena de morte, um grupo bipartidário de políticos e até do detetive do caso.

Robert Roberson, diagnosticado com autismo, foi condenado pela morte da filha de 2 anos em 2002. Caso a execução aconteça, Roberson pode ser a primeira pessoa a ser executada nos EUA por uma condenação de assassinato ligada ao diagnóstico de "síndrome do bebê sacudido".

Sangramento no cérebro e fratura no crânio causados pela síndrome do bebê sacudido. — Foto: Wikemedia/Domínio Público

O que é a síndrome do bebê sacudido?

Apesar do nome, a síndrome do bebê sacudido (ou SBS) acontece quando um bebê é sacudido de maneira brusca e repetida, de forma não acidental.

Esse movimento pode provocar lesões graves no cérebro e nos olhos, como hemorragias cerebrais e na retina, além de fraturas no crânio (veja imagem acima) e em ossos longos, como os braços e as pernas.

Isso acontece porque a cabeça do bebê é maior em proporção ao corpo e seus vasos sanguíneos são frágeis, o que torna o cérebro e os olhos mais vulneráveis a esse tipo de trauma.

"Essa é uma síndrome grave, com mortalidade de até 25% dos casos, dependendo da intensidade das lesões causadas pelo chacoalhamento. Além disso, pode deixar sequelas neurológicas irreversíveis, já que o sangramento comprime o cérebro e provoca lesão isquêmica", diz Christiane Cobas, neurologista infantil do Hospital Sírio-Libanês.

Em geral, a síndrome acomete bebês com menos de um ano, e principalmente aqueles com menos de seis meses de vida.

"Os bebês têm músculos do pescoço fracos e cérebros vulneráveis, e a sacudida intensa causa movimentos bruscos do cérebro dentro do crânio, levando a sangramento, inchaço cerebral e lesões permanentes, como atraso no desenvolvimento, problemas de visão, convulsões ou até a morte", explica Linus Fascina, gerente médico do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein.

Quais são suas causas?

Tecnicamente, a síndrome também é conhecida como trauma craniano abusivo (AHT, na sigla em inglês) ou trauma craniano não acidental.

Ela é mais comum em bebês pequenos, pois eles costumam chorar mais, o que pode frustrar cuidadores e levá-los a agir dessa forma agressiva.

Outros fatores de risco incluem a falta de experiência com crianças, dificuldades financeiras e problemas de saúde mental dos pais.

Agora, conforme explica o NHS, o serviço de saúde britânico, lesões por balançar um bebê não acontecem de forma acidental durante brincadeiras normais.

Esses momentos de afeto são inclusive fundamentais para o desenvolvimento emocional e social da criança.

"[A síndrome] é uma emergência pediátrica, caracterizada por achados decorrentes de maus tratos, quando o bebê é sacudido de forma violenta. A maioria dos casos ocorre até 6 meses de idade, embora possa acontecer até os 2 anos", alerta Thallys Ramalho, coordenador da linha pediátrica do Hospital Santa Helena, da Rede D'Or em Brasília.

Como são seus sintomas?

Os principais sintomas e sinais de alerta para os pais e responsáveis são os seguintes:

• Um choro constante ou uma irritação extrema

• Dificuldade para se manter acordado

• Problemas ao respirar

• Falta de vontade de se alimentar

• Náuseas ou vômitos

• Pele pálida ou com tom azulado

• Convulsões

• Paralisia

É preciso ficar atento pois mesmo nos casos mais leves, a criança pode aparentar estar bem, mas com o tempo, podem surgir problemas.

"Se o bebê demonstrar qualquer um desses sinais, é crucial procurar atendimento médico imediato", acrescenta Fascina.

Foto: American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus

Como é feito o diagnóstico?

O Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame dos EUA (NINDS, na sigla em inglês) explica que médicos costumam utilizar exames de imagem, como uma ressonância magnética ou tomografia computadorizada, para diagnosticar a condição.

Além disso, eles examinam a criança por completo, coletam informações sobre seu histórico médico e solicitam testes para identificar as possíveis lesões.

"Através dos exames de imagem é possível constatar a presença de hemorragia e edema cerebral", detalha Ramalho.

Um exame esquelético também pode revelar fraturas acidentais ou intencionais através de raios-X.

Fora isso, um exame ocular também é importante nesses casos, pois ele pode detectar sangramentos ou lesões nos olhos de bebê.

Já testes de sangue ajudam a descartar condições que podem ter sintomas semelhantes à síndrome do bebê sacudido, e dependendo da gravidade das lesões, o bebê pode ser monitorado em uma unidade de terapia intensiva pediátrica para cuidados adequados.

"O diagnóstico é feito com base na história de uma criança que apresentou uma redução abrupta do nível de consciência. A tomografia revela hematomas subdurais, e o exame de fundo de olho mostra hemorragia retiniana. Dependendo da gravidade do hematoma, pode ser necessária uma cirurgia para drenagem e suporte à vida." — Christiane Cobas, neurologista infantil do Hospital Sírio-Libanês.

O que costuma ser feito no tratamento?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), as hemorragias na retina costumam se resolver sozinhas.

Contudo, uma hemorragia vítrea, que é um sangramento no gel que preenche o olho do bebe, pode durar mais e afetar a visão, podendo até causar ambliopia, condição conhecida como “olho preguiçoso”. Nesses casos, pode ser necessário realizar uma cirurgia.

O procedimento também é indicado em casos mais graves, como cirurgias para controlar sangramentos internos ou no cérebro.

"O tratamento foca em estabilizar a condição do bebê, tratando o edema cerebral, as fraturas ou lesões associadas, e pode envolver intervenções cirúrgicas. O suporte a longo prazo pode incluir reabilitação física, ocupacional e terapia para atrasos de desenvolvimento." — Linus Fascina, gerente médico do Departamento de Pediatria do Hospital Israelita Albert Einstein.

Por Roberto Peixoto
Fonte: g1

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