Na sessão, nesta quarta-feira (6), Barroso disse que não entrou no mérito do acordo porque a adesão era voluntária.
"Portanto, quem estiver satisfeito adere, quem não estiver satisfeito vai brigar por conta própria", disse o presidente do Supremo, antes de acrescentar que o acordo "me pareceu uma boa solução."
"E achei que o volume de recursos que as empresas se dispuseram a aportar, ministro [Cristiano] Zanin, foi um volume muito relevante. R$ 170 bilhões não é pouca coisa, dá para passar um bom fim de semana", disse, rindo. "Acho que foi um número muito expressivo de uma negociação árdua."
O rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, deixou 19 mortos e despejou 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente.
A assessora técnica Monica Santos, 39, que perdeu a casa em Bento Rodrigues (MG) na tragédia, criticou as falas de Barroso. "Pelo cargo que ele ocupa, pela posição que ele ocupa, ele jamais poderia ter feito uma declaração dessas. Ele jamais teria que ter homologado o acordo sem conhecer nossa realidade", disse ao Painel.
"O acordo não levou em consideração tudo o que a gente vem passando nesses nove anos. A minha família continua sem casa, minha família continua sem ser indenizada. As pessoas que estão decidindo sobre nossa vida nem sequer nos ouviram", complementa.
Outro atingido, o empresário Edertone José da Silva, 57, de Governador Valadares (MG), também disse lamentar a frase dita pelo ministro. "Foi irônico e insensível até com a dor das pessoas, porque ele não conhece a nossa realidade aqui." Ele tinha uma empresa de extração de areia que faliu após o desastre.
Tanto Monica quanto Edertone são parte em um processo que pede indenização na Justiça do Reino Unido, e representados pelo escritório britânico Pogust Goodhead. Eles rejeitam o acordo de indenização que foi fechado no Brasil e teve a participação do Supremo Tribunal Federal.
Por meio da assessoria do STF, Barroso disse que não se referiu às vítimas e reforçou uma declaração que deu ao final do julgamento.
"Queria, em nome do tribunal, mandar uma mensagem de carinho e de solidariedade às vítimas do acidente do rompimento da barragem do Fundão em Mariana, Minas Gerais. Pessoas que perderam suas casas, seus pertences e suas memórias, eu diria. Dinheiro, por evidente, não é suficiente para construir tudo ou reconstruir tudo o que se perdeu, mas é muitas vezes a compensação possível. É o máximo que a gente pode fazer a essa altura", afirmou.
Por Danielle Brant
Fonte: folha.uol.com.br