A mudança começou a valer na última segunda-feira (4/11), quando a empresa Sepat assumiu os contratos de alimentação escolar na zona sul da capital. Isso aconteceu com uma readequação de pessoal e demissão de antigas cozinheiras.
O documento protocolado pelo PSol, explica, com base na denúncia anônima de professores e diretores, que anteriormente à nova terceirizada, “nunca houvera antes este controle sob as porções de refeições” e, que após isso, as crianças passaram a ser proibidas de comer além do que está descrito.
Para uma professora que trabalha em uma das escolas afetadas e que conversou com o Metrópoles, a mudança afeta a segurança alimentar dos alunos.
“A criança chega aqui e vai poder comer 10 bolachas e um copo de leite. Elas não podem repetir nem o copo de leite, nem pegar uma bolacha a mais. Na realidade que a gente tem, essa criança chega aqui só com o almoço que teve no dia anterior na escola. Então ela chega aqui no outro dia 7h da manhã e não pode mais tomar nem dois copos de leite. A criança que chegar com fome, que é a realidade das escolas paulistanas hoje, vai ter que esperar até o almoço para comer direito”, explicou.
O contrato da terceirizada funciona a partir da compra das refeições, e a comida passou a chegar com uma quantidade fixa, proibindo a repetição de itens do lanche, como frutas, ou biscoitos. Isso já acontece em outras escolas e, teoricamente, permite que a equipe nutricional tenha maior controle dos nutrientes que os alunos ingerem.
Todavia, quem trabalha nas escolas argumenta que o número de refeições não leva em consideração a situação social do bairro, nem a situação de crianças com necessidades especiais.
“A gente tem crianças com autismo que têm dificuldade na visualização de alguns alimentos e acaba sendo mais seletiva. Acontece dela não comer a comida, mas querer a melancia, ou dela querer comer só o arroz, por exemplo. Até então a repetição da fruta era livre, mas agora não é mais. E ela não pode mais selecionar, ela tem que receber aquilo que foi contratado. Então, eu te pergunto, essa criança fica com fome?”, questiona a professora que conversou com a reportagem.
O contrato da Prefeitura com a Sepat, segundo descrito pela denúncia no MPSP, tem validade até o final de 2025 e prevê o repasse de R$12 milhões para o atendimento da Diretoria Regional de Educação do Campo Limpo.
Procurada pelo Metrópoles sobre o assunto, a Secretaria de Educação nega que a nova terceirizada tenha alterado a alimentação escolar na região mencionada.
Ela alega que cada refeição “leva em consideração os valores nutricionais dos alimentos e as orientações estabelecidas nas Resoluções FNDE nº 06 e nº 20/2020, no Guia Alimentar para a População Brasileira, entre outras diretrizes” e que “a troca de empresa para fornecimento de alimentação escolar na região do Campo Limpo ocorreu por término de contrato. A nova prestadora de serviço foi contratada por licitação e conta com sua equipe de atendimento”.
Por Valentina Moreira
Fonte: metropoles.com