O executivo Donglai é um dos defensores de qualidade de vida na China, mas segundo Renata Livramento, especialista em saúde corporativa e bem-estar e professora da Human SA, grupo educacional que avalia a qualidade de ambientes de trabalho, a ação da empresa chinesa, em termos de bem-estar e saúde mental dos funcionários, pode se tornar um tiro que sai pela culatra.
“Se tem algo de positivo na licença por infelicidade é o fato de admitir que momentos difíceis fazem parte da vida, mas em vez de a empresa estar cuidando ativamente para que as pessoas tenham mais bem-estar e felicidade no trabalho, a empresa simplesmente tira a responsabilidade de campo, ficando inteiramente por conta do indivíduo”, diz.
A empresa chinesa, além da licença por infelicidade, também adotou uma jornada de trabalho mais curta, de sete horas, o que pode ser dois grandes avanços em um país conhecido por uma cultura de trabalho intensa, afirma Livramento.
“Claro que é uma discussão mais ampla, porque considerando a cultura das empresas chinesas, talvez seja um avanço para eles, mas está muito longe do ideal e traz intrinsecamente uma visão equivocada de que se retirarmos o que nos gera infelicidade seremos, então, felizes. A ciência da felicidade nos mostra que não é bem assim”, diz Livramento.
A ciência da felicidade no trabalho
De acordo com a ciência da felicidade, a executiva explica que para que tenhamos bem-estar e felicidade no trabalho precisamos cuidar de aspectos hedônicos (que propiciam satisfação com a função e com a organização) e também de aspectos eudaimônicos (que propiciam realização pessoal, significado e importância).
“Estamos falando de um conjunto amplo de fatores que, juntos, vão favorecer a felicidade e a saúde mental no trabalho. Eles envolvem desde salários dignos, lideranças humanizadas, condições de trabalho adequadas, bom relacionamento com colegas, segurança psicológica, participação e voz, por exemplo, até alinhamento de valores pessoais e organizacionais, como equilíbrio vida profissional e vida pessoal e oportunidades de desenvolvimento”, afirma Livramento.
Para promover qualidade de vida no trabalho, e consequentemente funcionários mais felizes, a executiva da Human SA afirma que é preciso que a empresa avalie e capacite suas lideranças para estarem aptos a cuidar da própria saúde mental, assim como de seus liderados.
“Existem muitos exemplos de ações já sendo realizadas no Brasil que favorecem a felicidade no trabalho e que funcionam como um fator de proteção à saúde mental como regime de trabalho flexíveis, quando o cargo permite, promoção da diversidade e inclusão e definição de metas claras e realistas”, diz Livramento.
A felicidade do brasileiro pode ser no trabalho também
Um estudo realizado pela Pluxee, em parceria com a The Happiness Index, revelou que os trabalhadores brasileiros estão 9% mais insatisfeitos com o trabalho do que a média global. A pesquisa, que avaliou o nível de felicidade e engajamento de funcionários em mais de 100 países, ouviu mais de 23 mil profissionais entre fevereiro e março de 2024.
O estudo analisou dois principais aspectos: a felicidade, que engloba as condições de trabalho e oportunidades de crescimento, e o engajamento, que mede a conexão dos funcionários com suas funções e empresas. No quesito felicidade, o Brasil está 4% abaixo da média global, e, em termos de engajamento, a diferença aumenta para 10%.
Olhar para esses dados precisa fazer parte da estratégia de uma companhia, afirma Livramento, que reforça que a implementação de benefícios voltados para o bem-estar não apenas melhora a saúde física, mental e emocional dos funcionários, mas também influencia positivamente no resultado da organização.
“Quando apostamos em profissionais mais felizes, é possível ver como resultado a diminuição de absenteísmo e o aumento de engajamento e produtividade – tudo isso gerará maior lucratividade para a companhia”, afirma a executiva.
Por Layane Serrano
Fonte: exame.com