O anúncio foi publicado em várias plataformas de emprego pela empresa, que oferece serviços de limpeza, manutenção, segurança e vigilância.
Nas redes sociais, o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, denunciou o anúncio como um caso de aporofobia — a aversão ou desprezo à pobreza. (Leia mais abaixo.)
Em nota, a empresa justificou que o conteúdo foi divulgado "de forma inadequada" por meio de um sistema automatizado de replicação. A loja também afirmou que solicitou a retirada do anúncio de todas as plataformas. (Leia íntegra abaixo.)
O Shopping Pátio Paulista, por sua vez, informou que "não teve qualquer conhecimento da descrição da vaga divulgada" e "que não compactua com esse tipo de abordagem". (Veja a íntegra da nota ao final.)
O que diz o anúncio
Para se candidatar à vaga, é exigido o ensino superior e formação em assistência social, além de conhecimento sobre o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) — um serviço municipal que atende, em especial, famílias em situação de pobreza e de vulnerabilidade.
O anúncio ainda pede que o candidato tenha inscrição no Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS), perfil de liderança e conhecimento em pacote office para produzir relatórios mensais para o shopping.
Como benefícios, a empresa oferece vale-refeição, vale-alimentação, assistência odontológica, vale-transporte e gympass.
Segundo o anúncio, o morador em situação de rua abordado deveria ser encaminhado aos serviços municipais.
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'Abordar pedintes e tirá-los do foco de cliente': empresa anuncia vaga de assistente social para retirar moradores de rua da frente de shopping de SP — Foto: Reprodução |
O que é aporofobia
Grades, lanças e muros. São diversas as barreiras utilizadas para impedir a aproximação de pessoas em situação de rua de residências, estabelecimentos, monumentos ou espaços públicos. A prática é conhecida como aporofobia — de origem grega, á-poros (pobres) e fobos (medo).
O termo foi popularizado em 1990 pela filósofa espanhola Adela Cortina.
Nos últimos anos, a palavra passou a ser difundida no Brasil, especialmente, com uma campanha do padre Júlio Lancellotti contra as cidades que a praticam.
Em entrevista à BBC, Cortina contou que criou o termo justamente para “dar visibilidade a essa patologia social que existe no mundo todo”. A filósofa ainda afirmou que “é comum tratar bem quem pode nos fazer favor ou dar algo em troca e abandonar aqueles que não podem nos dar nada disso”.
O que diz a empresa
"A Verzani & Sandrini informa que a descrição de uma vaga publicada recentemente em portais de emprego não condiz com os valores da companhia, nem com sua política de responsabilidade social.
O conteúdo foi divulgado de forma inadequada por meio de um sistema automatizado de replicação. A retirada do anúncio já foi solicitada a todas as plataformas, e estamos monitorando e cobrando para que isso ocorra rapidamente.
Reforçamos que a atuação da Verzani & Sandrini em serviços sociais é pautada pelo respeito, acolhimento e compromisso com a dignidade humana. Em todo o território nacional, desenvolvemos com orgulho o programa Nosso Cuidar, voltado à escuta ativa, orientação e acolhimento de nossos colaboradores e familiares. Reconhecemos o papel social que exercemos e sabemos que nossas atividades exigem zelo, responsabilidade e sensibilidade. Em situações necessárias, realizamos o encaminhamento de pessoas em situação de vulnerabilidade sempre em parceria com instituições públicas e privadas.
É importante destacar que a administração do shopping não participou da criação ou validação do anúncio em questão. A Verzani & Sandrini reconhece a gravidade do ocorrido e já iniciou a revisão de seus fluxos internos de comunicação e recrutamento para que situações como esta não se repitam.
Por fim, reiteramos nosso compromisso com práticas éticas, responsáveis e humanizadas, e nos colocamos à disposição para colaborar com total transparência na apuração dos fatos."
O que diz o shopping
"O Pátio Paulista afirma que não teve qualquer conhecimento da descrição da vaga divulgada, que foi feita por uma empresa terceira, responsável pela contratação de profissionais de diversos segmentos. E que não compactua com esse tipo de abordagem. O shopping reitera ainda que a descrição da vaga não condiz com os valores da empresa, que preza pelo respeito às pessoas.
O shopping esclarece que as vagas de assistência social existem para oferecer acolhimento humanizado às pessoas em vulnerabilidade social que buscam o estabelecimento como um pedido de ajuda. E, em função disso, firmou um convênio com o programa “Cidade Protetora”, da prefeitura de São Paulo, para que essas pessoas possam ser encaminhadas para projetos sociais nos quais poderão ter uma assistência adequada.
O shopping Pátio Paulista mais uma vez repudia veementemente a descrição da vaga anunciada e abrirá uma sindicância para apurar os fatos e impedir que esse tipo de situação volte a acontecer."
Fonte: g1