O caso aconteceu em abril de 2024, contra a filha mais velha da atriz, que é negra e tinha 14 anos na época, sendo estudante do 9º ano. Segundo Samara, duas alunas da mesma série roubaram o caderno de sua filha, arrancaram todas as páginas de um trabalho de pesquisa e escreveram a frase “cu preto”. O caderno foi devolvido para o Achados e Perdidos em seguida. Em comunicado interno, o colégio Vera Cruz reconheceu a agressão e suspendeu as alunas responsáveis.
A decisão judicial é de 16 de dezembro do ano passado, proferida pela 2ª Vara Especial da Infância e da Juventude. Antes disso, a audiência aconteceu em 25 de junho, data do aniversário de 15 anos da primogênita de Samara. A partir da sentença, as famílias das estudantes recorreram, e o processo aguarda julgamento de apelação no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), em segredo de Justiça.
Nessa quarta-feira (16/4), Samara Felippo comentou o caso da filha em um vídeo nas redes sociais, afirmando que “pro total de zero surpresas, nada aconteceu”. “Eu ainda estou nessa luta e não só pela minha filha, mas pelos inúmeros casos de racismo que continuam acontecendo recorrentemente com adolescentes e crianças nas escolas”, disse a atriz.
Em nota ao Metrópoles, a advogada que defende a atriz, Thais Cremasco, afirmou que a sentença “reconheceu a gravidade dos fatos e aplicou a medida socioeducativa cabível às adolescentes envolvidas, nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente”.
“Este caso é emblemático porque reafirma que práticas de racismo não serão toleradas, mesmo quando praticadas por adolescentes, e que o sistema de justiça está atento à proteção da dignidade e da igualdade racial, valores fundamentais de nossa Constituição”, escreveu a advogada.
Ainda de acordo com a defesa, a família da vítima espera que todo o caso represente não apenas uma resposta ao ocorrido, mas também um “passo importante na conscientização da sociedade sobre o impacto da violência racial, especialmente no ambiente escolar”.
Relembre o caso
Quando soube do que havia acontecido com a filha, Samara Felippo escreveu sobre a ocorrência em um grupo de pais do Vera Cruz no WhatsApp. “Ainda estou digerindo tudo e, talvez, nunca consiga. Cada vez que olho o caderno dela ou vejo ela debruçada sobre a mesa, refazendo cada página, dói na alma. Choro. É um choro muito doído. Mas agora estou chorando de indignação também”, registrou.
De acordo com Samara, os “atos hostis e excludentes” contra a filha vinham sendo “cada vez mais violentos e reincidentes” na escola. A atriz relatou que a estudante já era “excluída de trabalhos, grupos, passeios”, mas “aceitava qualquer migalha e deboche” porque “queria fazer parte de uma turma”.
Na carta, Samara também diz estar preocupada com a saúde mental da estudante e de outros alunos negros do colégio. “Não é um caso isolado, que isso fique claro”, afirmou.
“Quero que todos saibam a gravidade da situação a qual minha filha foi submetida e que a escola insiste em ocultar, atos esses que estão causando danos irreparáveis para as nossas vidas! E quando digo ‘nossa’ é de todos nós mesmo, pois o racismo é um câncer na nossa sociedade e não podemos nos calar”, registrou.
Vera Cruz
Em comunicado interno veiculado após o caso, em abril do ano passado, o Vera Cruz confirmou a agressão racista e disse que manteve comunicação “muito intensamente com as famílias das alunas envolvidas”.
Segundo a escola, ao recuperar o caderno, a filha de Samara Felippo procurou a professora e a orientadora da série. “Imediatamente foram realizadas ações de acolhimento à aluna, de comunicação a todos os alunos da série, bem como a suas famílias”, afirma a nota.
De acordo com a mensagem, as alunas agressoras foram proibidas de participar de uma viagem do colégio e foram suspensas.
“A suspensão se encerrará quando entendermos que concluímos nossas reflexões sobre sanções e reparações, que ainda seguimos fazendo – fato também comunicado a todas as famílias diretamente envolvidas”, disse à época.
Por Bruna Sales
Fonte: metropoles.com