A Operação Desfaçatez cumpriu mandados de prisão em Vicente de Carvalho, na Zona Norte, e em Bangu, na Zona Oeste.
“Estamos sempre monitorando esses criminosos que tentam se esconder na internet. Desta vez tivemos que agir logo porque eles pretendiam assassinar um morador de rua e transmitir o crime, hoje, que seria o aniversário de Hitler”, explicou a delegada Maria Luiza Arminio Machado, responsável pelas investigações.
Atuação da Polícia Civil do RJ, em parceria com o Ciberlab da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, foi fundamental para impedir o crime a tempo.
Agentes identificaram a atividade de uma rede de jovens que utilizava a plataforma Discord para praticar e divulgar crimes como maus-tratos a animais, indução à automutilação, estupro virtual, racismo e incitação a diversas formas de violência.
De acordo com as investigações, o grupo promovia ainda ataques de ódio direcionados a negros, mulheres e adolescentes.
Um dos presos, Bruce Vaz de Oliveira, se apresenta em redes sociais como ativista ambiental, mas, segundo as investigações, organizou sessões de tortura a gatos e transmitiu pelo Discord. Um dos felinos teve a pele retirada até a morte.
Também foram detidos Kayke Sant Anna Franco e Caio Nicholas Augusto Coelho.
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Ao centro, Felipe Curi, secretário de Polícia Civil do RJ — Foto: Henrique Coelho/g1 Rio |
“Entre os presos de hoje, gostaria de destacar a prisão do Bruce Vaz. Se dizia ativista de proteção de animais da ONU e mediador de conflitos em países do Oriente Médio em guerra. Passava completamente despercebido de todos", disse o secretário de Polícia Civil do RJ, delegado Felipe Curi.
"Ele adotava animais e fazia a dissecação desses animais ao vivo na plataforma Discord. E temos um documento do governo americano dizendo que ele faz parte de uma célula terrorista. Um verdadeiro psicopata”, acrescentou.
A ação no RJ contou com agentes da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) e da 19ª DP (Tijuca) e teve o apoio da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte).
Entenda as acusações, segundo a investigação:
• Kayke Sant Anna Franco: acusado de maus-tratos a animais, indução à automutilação, estupro, pichação, incitação ao crime e corrupção de menores. Ele teria planejado o assassinato de um homem em situação de rua, programado para ser transmitido ao vivo neste domingo (20).
• Caio Nicholas Augusto Coelho: envolvido em maus-tratos a animais, racismo, corrupção de menores, incitação ao crime e associação criminosa. Caio teria incitado a prática de crimes contra moradores de rua e participado ativamente de eventos de tortura.
• Bruce Vaz de Oliveira: proprietário do servidor onde os crimes eram realizados, acusado de maus-tratos a animais, corrupção de menores, incitação ao crime e associação criminosa. Ele teria liderado eventos de tortura e morte de animais, incitando outros membros a participarem.
Além das prisões, foram expedidos mandados de busca e apreensão domiciliar para recolher materiais que possam contribuir para a investigação, como computadores, smartphones e dispositivos de armazenamento.
Segundo a polícia, a prisão dos indivíduos envolvidos é um passo significativo para desmantelar redes criminosas que utilizam a internet para promover violência e crueldade.
Procurada pela TV Globo, a ONU afirmou que Bruno Vaz não é funcionário ou embaixador da Organização das Nações Unidas.
"Reforçamos o alerta sobre o uso do nome da Organização por fraudadores e estelionatários, que se identificam como embaixadores ou apoiadores de alto nível da ONU, para se beneficiar indevidamente".
Em nota, o Discord afirmou que tem políticas rigorosas contra a promoção de discurso de ódio, incitação à violência e compartilhamento de conteúdo prejudicial. A plataforma afirmou ainda que está comprometida em proporcionar um ambiente positivo e seguro para usuários brasileiros.
"Assim que tomamos conhecimento de conteúdos desse tipo por meio de nossas ferramentas de segurança ou por denúncias de usuários, tomamos as medidas apropriadas, incluindo a remoção de conteúdo, banimento de usuários e o desligamento de servidores. Também treinamos as forças policiais brasileiras e cooperamos plenamente com suas investigações, o que resultou em prisões bem-sucedidas em uma série de operações ao longo do último ano", diz a nota.
Por que Desfaçatez?
O nome da operação remete à postura cínica e dissimulada dos investigados, que cultivavam uma reputação positiva enquanto participavam de ações abjetas e violentas no universo digital.
A escolha do termo expõe o abismo entre a aparência social e a verdadeira natureza das condutas criminosas.
Por Leslie Leitão, Henrique Coelho, TV Globo e g1 Rio
Fonte: g1